Poeta Silas Correa Leite

Poeta Silas Correa Leite
Romancista, Ficcionista, Ensaista, Resenhista

Monday, November 29, 2010





ESTATUTO DE POETA

Primeiro Rascunho Para um Esboço de Projeto Amplo, Total e Irrestrito
Silas Corrêa Leite
Artigo Um

Todo Poeta tem direito de ser feliz para sempre, mesmo até muito além do para sempre, ou quando eventualmente o “para sempre” tenha algum fim.
Artigo Dois
Todo Poeta poderá dividir sua loucura, paixão e sensibilidade com mil amores, pois a todos realmente amará com o mesmo prelúdio nos olhos, algumas asas nas algibeiras e muitas cítaras encantadas na alma, ainda assim, sem lenço e sem documento.
Parágrafo Único
Nenhum Poeta poderá ser traído, a não ser para que a pobre ex-Musa seja infeliz para todo o resto dos dias que lhe caibam na tábua de carne desse Planeta Água.
Artigo Três
Nenhum Poeta padecerá de fome, de tristeza ou de solidão, até porque a tristeza é a identidade do Poeta, a solidão a sua Pátria, sendo que, a fome pode muito bem ser substituída num abismo terminal por rifle ou cianureto. E depois, um poeta não precisa de solidão para ser sozinho. É sozinho de si mesmo, pela própria natureza, com seus encantários, santerias, ninhais, mundo-sombra e baladas de incêndio.
Artigo Quatro
A Mãe do Poeta será o magno santuário terreal de seus dias de lutas e sonhos contra moinhos e erranças de gracezas e iluminuras.
Filho de Poeta será como caule ao vento, cálice de liturgia, enchente em rio: deverá adaptar-se ao Pai chamado de louco por falta de lucidez de comuns mortais ou velado elogio em tácita inveja espúria.
Artigo Quinto
Nenhum Poeta será maior que seu país, nenhuma fronteira ou divisa haverá para o Poeta, pois sua bandeira de luz-cor será a justiça social, pão, vinho, maná, leite e mel, além de pétalas e salmos aos que passaram em brancas nuvens pela vida. E depois, uns são, uns não, uns vão, uns hão, uns grão, uns drão – e ainda existem outros.
Artigo Sexto
A todo Poeta será dado pão, cerveja, amante e paixão impossível, o que naturalmente o sustentará mental e fisiológicamente em tempos tenebrosos ou de vacas magras, de muito ouro e pouco pão.
Artigo Sétimo
Nenhum Poeta será preso, pois sempre existirá, se defenderá e escreverá em legítima defesa da honra da Legião Estrangeira do Abandono, à qual se sabe pertencer, com seu butim de acontecências, ou seu não-lugar de, criando, Ser, estar, permanecer, continuar, feito uma letargia, um onirismo, uma catarse, ou um surto psicótico que os anjos chamam alumbramento terçã.
Artigo Oitavo
A infinital solidão do espaço sempre atrairá os Poetas.

Artigo Nono

Caso o Poeta “viaje fora do combinado”, tome licor de ausência ou vá morar no sol, nunca será pranteado o suficiente, nem lhe colocarão tulipas de néon, dálias aurorais, estrelícias de leite ou dente-de-leão sob o corpo que combateu o bom combate. Será servido às carpideiras, amigos, parentes, anjonautas e guardiões, vinho de boa safra por atacado, cerveja preta mais bolinhos de arroz, pão de minuto e cuque de fubá salgado.


Artigo Décimo

Poeta não precisará mais do que o radar de seus olhos, as suas mãos de artesão sensorial no traquejo do cinzel interior, criativo, mais sua aura abençoada e seu halo com tintas de luz timbral para despojar polimentos íntimos em verso e prosa, como pertencimentos-quireras, questionários e renúncias.

Artigo Décimo-Primeiro

Poeta poderá andar vestido como quiser, lutar contra as misérias e mentiras do cotidiano (riquezas impunes, lucros injustos, propriedades roubos), sempre buscando pela paz social, ou ainda mamando na utopia de uma justiça ético-plural-comunitária. Quem gosta de revolução de boteco é janota boçal metido a erudição alcoólica e pseudo-intelectual seboso e burguês. Poeta gosta mesmo de humanismo de resultados. De pegar no breu. A luta continua! Saravá, Brecht!


Artigo Décimo-Segundo

Poeta pode ser Professor, Torneiro-Mecânico, Operário, Ourives, Jardineiro, Fabricante de Bonecas, Vigia-Noturno, Engolidor de Fogo, Entregador de Raposas, Dono de Bar ou Encantador de Freiras Indecisas. Poeta só não poderá ser passional, insensível, frio ou interesseiro. Ao poeta cabe apenas o favo de Criar. O poeta escreve torto por linhas tortas (um gauche), poesilhas (poesia rueira e descalça) e ficção-angústia. Escreve (despoja-se) para não ficar louco...para livrar do que sente. O Poeta, afinal, é um “Sentidor” com sua angústia-vívere

Artigo Décimo-Terceiro

Se algum Poeta for acusado levianamente de alguma eventual infração ou crime, a dúvida o livrará de ser apenado. E se o Poeta dizer-se inocente isso superará palavras acima de todos e sua fala será sentença e lei sagracial. A ótica do Poeta está acima de qualquer suspeita, e ele sempre é de per-si mesmo o local do crime da viagem de existir. Mas pode colaborar com as autoridades, cometendo um crime perfeito. Afinal, só os imbecis são felizes.



Parágrafo Único

Poeta não erra. Refaz percursos. Poeta não mente. Inventa o inexistente, traduz o impossível, delata o devir. Poeta não morre. Estréia no céu. Poeta padece fibra por fibra no ser-se de si mesmo
Artigo Décimo-Quarto

Aos Poetas serão abertas todas as portas, até as invisíveis aos olhos vesgos e comuns dos mortais anônimos, serão abertos todos os olhos, todas as almas, todos os caminhos, todas as chamas, todos os cântaros de lágrimas e desejos, todos os segredos dessa dimensão ou fora dela, num desespelho de matizes, feito insofrência do desmundo.


Artigo Décimo-Quinto

A primeira flor da primeira aurora de cada dia novo, será declarada de propriedade do Poeta da rua, do bairro, do país ou de qualquer próximo Poeta a confeitar como louco, como ermitão ou pioneiro, de vanguarda. Em caso de naufrágio ou incêndio, poetas e grávidas primeiro

Artigo Décimo-Sexto
Não existe Poeta moderno, clássico, quadrado, matemático como pelotão de isolamento, ou só aleijado por dentro, pois as flores e os rios não nascem nunca iguais aos outros, sósias, nem os poemas são tijolos formais de reboques arcaicos. Nenhum Poeta poderá produzir só por estética, rima ou lucro fóssil. Poesia não é para ser vendida, mas para ser dada de graça. Um troco, um soneto, uma gorjeta, um haikai, um fiado pago, uns versos brancos, um salário do pecado, um mantra-banzo-blues-lundu. E todo alumbramento é uma meia viagem pra Pasárgada.

Poeta é tudo a mesma coisa, com maior ou menor grau de sofrimento e lições de sabedoria dessas sofrências, portanto, com carga maior ou menor de visão, lucidez, sensoriedade canalizada entre o emocional e o racional, de acordo com a sua bagagem, seu vivenciar, seu prisma existencialista de bon vivant por atacado. Poeta há entre os que pensam e os que pensam que pensam. Entre os que são e os que pensam que são, pois se parecem. A todos é dado a estrada de tijolos amarelos para a empreita de uma caminhada que o madurará paulatinamente. Ou não. Todo poeta é aprendiz de si mesmo, em busca de uma pegada íntima, e escreve para oxigenar a alma. Afinal, são todos sementes, e sabem que precisam ser flores e frutos, para recriarem, para sempre, a eterna primavera cósmica.

Todo aquele que se disser Poeta, assim o será, ou assim haverá de ser

Parágrafo Um

O verdadeiro Poeta não acredita em Arte que não seja Libertação. Saravá, Manuel Bandeira!

Parágrafo Dois

Poeta bebe porque é líquido. Se fosse sólido comia.

Parágrafo Três

Poeta é como a cana. Mesmo cortado, ralado, amassado, ao ser posto na moenda dos dias, ainda assim tem que dar açúcar-poesia
Inciso Um

Poeta também bebe para tornar as pessoas mais interessantes.

Parágrafo quatro

Poeta não viaja. Poeta bebe. E todo Poeta sabe que o fígado faz mal à bebida.




Artigo Décimo-Sétimo

Poeta terá que ser rueiro como pétala de cristal sacro, frequentador de barzinhos como anjo notívago, freguês de saunas mistas como recolhedor de essências, plantador de trigais amarelos como iluminador de cenários, cevador de canteiros entre casebres de bosquíanos, entre o arado e a estrela, um arauto pós-moderno como declamador de salmos contemporâneos entre extraterrestres.

Parágrafo Único


Poeta rico deverá ainda mais amar o próximo como se a si mesmo, ajudando os fracos e oprimidos, os Sem Terra, Sem Teto, Sem Amor, para então se restar bem-aventurado e poder escrever cânticos sobre a condição humana no livro da vida. Poeta é antena da época. E o neoholocausto do liberalismo globalizador é o câncer que ergue e destrói coisas belas.

Artigo Décimo-Oitavo

A todo Poeta andarilho e peregrino como Cristo, São Francisco ou Gandhi, será dado seu quinhão de afeto, sua porção de Lar, seu travesseiro de pétalas de luz. Quem negar candeia, azeite e abrigo ao Poeta, nunca terá paz por séculos de gerações seguintes abandonadas entre o abismo e a ponte para a Terra do Nunca. Quem abrigar um Poeta, ganhará mais um anjo-da-guarda no coração do clã que então será abençoado até os fins dos tempos.

Parágrafo único
O sábio discute sabedoria com um outro sábio. Com um humilde o sábio aprende.

Artigo Décimo-Nono

Poeta poderá andar vestido como quiser, com chapéus de nuvens, pés de estrelas binárias ou mantras de ninhos de borboletas. Nenhum Poeta será criticado por fazer-se de louco pois os loucos herdarão a terra e são enviados dos deuses. “Deus deve amar os loucos/Criou-os tão poucos...” - Um Poeta poderá também andar nu, pois assim viemos e assim nos moldamos ao barro-olaria de nosso eio-Éden chamado Planeta Água. E a estética para o poeta não significa muito, somente o conteúdo é essência infinital.

Artigo Vigésimo

Poeta gosta de luxo também, mas deve lutar por uma paz social, sabendo a real grandeza bela de ser simples como vôo de pássaro, simples como pouso em hangar fantástico, simples como beira de rio ou vão de cerca de tabuínha verde. Só há pureza no simples.

Artigo Vigésimo-Primeiro

Nenhum Poeta, em tempo algum, por qualquer motivo deverá ser convocado para qualquer batalha, luta ou guerra. Mas poderá fazer revoluções sem violência. Poderá também ser solicitado para ser arauto da paz, enfermeiro de varizes da alma ou envernizador de cicatrizes no coração, oferecendo, confidente e solidário, um ombro amigo, um abraço de ternura, um adeus escondido feito recolhedor de aprendizados ou visitador de bençãos, ou até ser circunstancialmente um rascunhador clandestino de alguma ridícula carta de suicida por paixão impossível.


Artigo Vigésimo-Segundo

Mentira para o Poeta significa cruz certa. Aliás, poeta na verdade nunca mente, só inventa verdades tecnicamente inteiras e filosoficamente sistêmicas...

Artigo Vigésimo-Terceiro

Musa-Vítima do Poeta será enfermeira, psicóloga, amante, mulher-bandeira, berço esplêndido, Santa. Terá que ser acima de todas as convenções formais, pau para toda obra. No amor e na dor, na alegria e na tristeza, até num possível pacto de morte.

Artigo Vigésimo-Quarto

Poeta não paga pensão alimentícia. Ou se está com ele ou contra ele. Filhotes sobrevivente de uma relação qualquer, ficarão sob sua guarda direta e imediata. Ex-Mulheres serão para sempre águas passadas que não movem moinhos, como velas ao vento de uma Nau Catarineta qualquer, como exercícios de abstrações entre cismas, ou como aprendizados de dezelos íntimos de quem procura calma para se coçar.


Artigo Vigésimo-Quinto

Revogam-se todas as disposições em contrário

CUMPRA-SE - DIVULGUE-SE
Itararé, São Paulo, Brasil, Cinzas, 1998, Lua Cheia – Do jazz nasce a luz!

Poeta Silas Corrêa Leite, Educador e Jornalista – Membro da UBE-União Brasileira de Escritores - www.itarare.com.br/silas.htm

(Texto traduzido para o espanhol pela Poeta Dr. Antonio Everardo Glez, de Durango, México) - Breve tradução para o inglês, francês e italiano.


E-mail: poesilas@terra.com.br
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Comentários Sobre o Estatuto de Poeta


Por Mestra Dra. Alice Tomé*


Viver em Arte poética é entrar na dimensão do infinito sem procurar razões, e, como tudo tem um princípio e um começo a ideia deste prefácio para o Estatuto de Poeta nasceu das inter-relações via Internet do grupo «Cá Estamos Nós» criado por Carlos Leite Ribeiro, jornalista, poeta e ensaísta português.

Se toda a canção é um poema, - para quem nasceu quase a cantar, dizem – é uma honra muito grande esta solicitação de prefaciar a obra – Estatuto de Poeta - de Silas Corrêa Leite, poeta e professor, que como todos os Estatutos são o caminho que se deve seguir para atingir os fins; e, como ele próprio escreve «Ser poeta é minha maneira/De chorar escondido/Nessa existência estrangeira/Que me tenho havido».

Uma maior honra ainda porque não trilhando directamente os caminhos científicos de Artes e Letras mas, sim, de Ciências Sociais e Humanas, e mais precisamente da Sociologia da Educação, a questão poética é algo que brota naturalmente em mim, como o riacho que nasce na montanha e vai escalando os espaços até se tornar uma força corrente e se juntar a outras correntes que lhe dão ainda mais força, e onde tantas vidas vão beber, alimentar, refrescar, repousar, sonhar, criar (…), e, em terras de Beirãs, do rio Côa os antigos contavam: «Quantos moços…Quantas moças?/Lenços brancos aí lançaram?/A corrente os arrastou/E sua benção partilharam…(Alice Tomé, Café Literário3, Editores Associados & Blow-Up Comunicação, São Paulo, Brasil, 2002)»

O Poeta e Educador Silas Corrêa Leite já tem um longo caminho poético percorrido, feito de experiências vividas, aprendidas, interiorizadas e como ele diz: «Não somos brancos, vermelhos, pretos, ou amarelos/Somos a Raça Humana…». E, para melhorar esse caminho «humano» nasce o Estatuto de Poeta que, por certo, logo no artigo 1º não deixa dúvida da sua grandeza e ambição na procura da Felicidade: «Todo o Poeta tem direito de ser feliz para sempre,…». Essa procura da Felicidade – essência da pessoa – que cada Ser vive e procura à sua maneira, que se mostra e esconde e não tem retorno; ou se vive ou não existe, algo sem definição, como a própria poesia, existe, sem mais, e, diria Manuel Bandeira «O verdadeiro poeta não acredita em Arte que não seja Libertação».

Bebe-se a água cristalina da fonte, bebe-se o vinho de pura casta que sacralizado se transforma em vida…,e, pensa-se poesia no silêncio ou na celeuma, porque poeta está para além do tempo e da razão, «…Poeta bebe…(artº. Quarto)».

Todos os Artistas transgridem as normas sociais, todos saltaram barreiras, todos, no sentido da normalidade, fizeram loucuras porque a deificação da Arte e Poesia é cósmica, é mística, é dogmática, e, o seu criador é uma mistura/mélange disso tudo, onde a Estética criadora existe na «Sonsologia do Ser, do já vivido ou do já sentido, (Mario Perniola)», e, nesse cruzamento de Olhares, visões e sensações nasce a obra, criação sua, fruto seu e sempre único, mesmo que em algo se assemelhe à Escola de uma vida feita de «Retalhos e Colagens» que os Autores (re)criam dando-lhe outra dimensão, outra existência, outra roupagem, à maneira de Miguel D’Hera ou de Eduardo Barrox e tantos outros…O artigo décimo, deste Estatuto de Poeta, transporta-nos até essa dimensão natural : «Poeta poderá andar vestido como quiser…».

A poesia vive-se, dá-se, partilha-se entre amigos, e, nesse acto de solidão, de sensualidade, de saudade, de comunhão que nos transportam os versos de autores, pertencentes ao passado e ao presente, grandes vultos poéticos que marcaram a nossa identidade Luso-Afro-Brasileira, como: Luís de Camões, Gil Vicente, Almeida Garrett, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, António Nobre, Florbela Espanca, Miguel Torga, António Gedeão, Vergílio Ferreira, Amália Rodrigues, Jorge Amado…, e, dando continuidade a essa veia poética estão Autores actuais: Flávio Alberoni, Ana Paula Bastos, Ângelo Rodrigues, Alice Tomé, Eduardo Barrox, João Sevivas, Manuel Alegre, Américo Rodrigues, Silas Corrêa Leite, Von Trina, José Ronaldo Corrêa, Valmir Flor da Silva…,e, tantos, tantos outros, são os testemunho universal e eternizante do poeticamente existindo e vivendo a dimensão Humana sempre aprendendo e criando.

«Sinto que algo se separa neste instante./É uma parte que se vai/ e já me deixa saudades…(Alberoni, Café Literário1, Editores Associados & Blow-Up Comunicação, SP, Brasil, 2002)»

Poeta luta pela paz mesmo no meio do “caos”, é irrequieto, irreverente, porque igual a si próprio na procura incessante do “Ser ou não Ser”, do “Estar ou não Estar”, “do Viver ou não Viver”, porque poeticamente sonhando e criando essa outra existência telúrica onde a Musa - da Arte poética – queima convenções formais e se torna «Pau para toda a obra…(artº vigésimo segundo)», e, aos que a saudade Lusa herdaram, ou a vivem, seja onde for, saia a POESIA do anonimato, divulgue-se este Estatuto de Poeta, viva-se em poesia e abra-se a porta do infinito…assim o esperamos.

*Mestra Doutora Alice Tomé – Portugal - Texto inédito criado para Estatuto de Poeta, de Silas Corrêa Leite de Itararé-SP/Brasil», aos 10 de Maio de 2002, Lisboa, Portugal.
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*Alice Tomé é Professora Universitária, Socióloga e Educóloga, Poeta, Ensaísta, e Doutora em Ciências da Educação, Directora da Revista ANAIS UNIVERSITÁRIOS – Ciências Sociais e Humanas, Editora da Universidade da Beira Interior (UBI), Covilhã, Portugal, e Responsável das Relações Internacionais Sócrates/Erasmus do Departamento de Sociologia da UBI; <"http://atome.no.sapo.pt/index.htm>; . A autora, além das publicações poéticas nas Antologias: POIESIS IV, (2000), e, POIESIS VI, (2001), da Editorial Minerva, Lisboa, colabora, em várias «Revistas Electrónicas», (sites na WEB): «Andarilhos das Letras», «Café Literário» - São Paulo, SP; «A Arte da Palavra»; «Grupo Palavreiros»; «3D gate»; «Rio Total»; «Jornal de Poesia»; Brasil; e, em Portugal, nos sites «Cá Estamos Nós» - Marinha Grande; «terranatal» - O Portal de Portugal; e, «URBI ET ORBI» - jornal on-line da UBI, da Covilhã, da Região e do resto.
Tem vários livros publicados, sendo também Autora – Coordenadora da obras: «Éducation au Portugal et en France. Situations et Perspectives, Editions de L’Harmattan, Paris, 1998; «Terra Vida Alma. Valongo do Côa», Editorial Minerva, Lisboa, 2000. Recentemente publicou: «Sociologia da Educação. Escola et Mores», Editorial Minerva, Lisboa, 2001.
Alice Tomé é Beirã de gema, Portuguesa de «jus sanguinis», amante da vida...de Lisboa e Paris (e Covilhã onde trabalha).
Nasceu em Valongo do Côa, Sabugal, Guarda, Portugal.

Wednesday, November 24, 2010




Línguas Estranhas (Poema)

Deus é o silêncio do universo
E o ser humano o grito que dá sentido
Á esse silêncio.

José Saramago

Minha querida mãe falava línguas estranhas
E chorava
E também levitava no dom da profecia.

Meu pai maestro falava línguas estranhas
E pregava
E ao acordeom tocava enquanto harmonia

Minha irmã Clarice falava línguas estranhas
E cantava
E a tudo amava em perfeita sintonia

Eu, pobre de mim, escrevo poesia
Língua estranha em que se lanha a serventia
E lustro a alma na linguagem e alquimia
Porque sensibilidade
E espiritualidade, é, toda via...

O pai foi tocar acordeom de estrelas para Deus
Em angélicos dobrados
A mãe foi fazer pamonhas de crepúsculos no céu
E de orações tece seus rubros bordados
Clarice viúva ainda sonha um príncipe encantado
Que num volkswagen branco virá montado

Eu, poeta, pobre coitado
Fui de mim mesmo condenado
A escrever poemas para pegar os meus pecados!

-0-

Silas Correa Leite – Santa Itararé das Letras
E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogue: www.portas-lapsos.zip.net

Thursday, November 11, 2010




Escreve um Educador, Escritor Premiado


EU SOU UM ALUNO


E comecei a ser ALUNO desde o primeiro dia que saí da barriga de minha mãe, quando abri um berreiro danado, sem certamente sequer saber o que eram vogais & consoantes, numa eventual onomatopéia de pranto assustado, em alto e bom berreiro de récem-nascido. O meu primeiro olhar lambido. O meu primeiro cheiro tenro. O meu primeiro dodói inusitado. Tudo isso, afinal, foram aprendizados primordiais para mim. Confesso agora que já estava nascendo ali o "apreendedor" de tantas sábias ilusões da vida. Também aprendi zelos e ternuras. Luzes e sonhos. Seios e beijos. E desde um toquinho ainda, eu, de alguma maneira inexplicável, já "lia" muito bem. De movimentos a somas. De carinhos a pitos. De calores maternos a gestos gerais. Eu era tão pequenino e viera ao mundo para ser o melhor aluno, o melhor aprendiz dessa vida louca. Depois vieram outras espécies de lições. De todos os tipos. Febres. Tristezazinhas. Abraços apertados. O adorável colo de mãe. A vida era uma enorme lousa sem tamanho. Cenário de família com parentes. Quintais e romances. E eu ali ainda nas primeiras frases mal feitas, tipo "nenê mamá". A primeira coisa que ouvi e entendi, compreendendo, e depois certamente ouviria ainda por milhares de vezes, foi o meu sagrado Nome de Batismo. Era ali o meu documento-vida, a minha identificação-chave. Minha vida era uma história a ser escrita por mim mesmo, aprendendo dia após dia... ao meu jeito, como diz a canção Falei logo. Mamã. Riram alvissareiros. Gostei. Repeti todo posudo e cor-de-rosa. Me beijaram. Adorei. Passaram talquinho em mim. Legal. Depois, acho, falei papá (comida), ou papai. Das duas, uma. Vim aprendendo pela vida. Adoro aprender. Depois vieram os tropeços e tombos. Escuros e sombras. Desencontros. Doeram. Dodói mesmo eu logo aprendi dizer com beicinho mole. Rendia. Remédios. Pitos. Castigos que eram mais gestuais, como sonoros chius esticados. Afetos. Nódoas. Remédios. Correria. Minha mãe com os olhos vermelhos, dando beijinhos doces e molhados em meu machucado calinho marrom. Doeu, Mamãe! Aliás, minha mãe era um livro aberto em milhares de páginas que sorriam doces lições cheias de encantários para mim.
Fui crescendo e aprendendo. Sempre. Cada segundo era uma aula enorme. Cada minuto uma medida-limite. Cada dia um bonito questionário. Cada aprendizado um exercício de estima para multiplicar-me em palavras e afetos. Cada luz ou dor circunstancial, uma fixação no arquivo sensorial da minha memória atiçada. Fui crescendo e aprendendo territórios e mapas em casa. Música, Garnisés, Canteiros, Política. Meu pai tinha programa de rádio, regia corais e bandas, e adorava João Goulart, o Presidente. Fui politizado mesmo antes de ser alfabetizado. E adquiri logo a tal inteligência musical, depois artística, imagética. E ainda pondo senso crítico em tudo. Muito resmungão, diziam minhas irmãs que eram um grude comigo, o chamado bendito fruto. Meu genitor muito sabido, logo ensinou-me algumas vogais, escritas no papelão de caixas de sandálias velhas. Depois consoantes complicadas, em retalhos de compensados de pinhos com nós vermelhos. Em seguida o Pai me ensinou a "ler" as horas certas, num relógio antigo do tamanho de uma panqueca. Custou mais aprendi. Ela quase perdeu a paciência. Mas eu acabei pegando o jeito. Fiz bonito, afinal. Depois o velho me falou sobre as naturais estações do ano. Primavera, verão, outono inverno. Épocas de plantios e colheitas. Luas e mudanças dela. Época boa pra pescar, ou pra podar roseiral. A rua era meu mais belo paraíso predileto. Um céu de aventuras e conquistas. Espaços e descobertas. Amigos e trocas. Na rua aprendi brincar, amar, ser feliz. Amizades e dribles da vaca. Compreendi desde cedo que os diferentes eram iguaizinhos. Descobri-me uma espécie de Robinson Crusóe sem lenço e sem documento. Bolinha de gude, bola de meia, bola de papel. E o baita sol, uma espécie de enorme Sonrisal alto pendurado lá nos repolhos azuis de Deus. Auroras e prelúdios. Sanfonas de ventos e leques de nuvens.
Depois as brincadeiras adoráveis. Pular carniça entre fogueirinhas de papel de pão. Roda cotia. Balança caixão. Serra Serra Serradô. Atirei um pau no gato. Até que um dia – eu era feliz e não sabia – nos tiraram a liberdade e as brincadeiras sadias dela. De sermos crianças inteiras, plenas, vivas, como se páginas puras e em branco aprendendo algarítimos de afetos, somas de companheirismos, escritas cuneiformes de ilusões. Era tempo de irmos para escola. O que seria aquilo? Devia ser um sonho, uma graça, uma belezura. Foi? A primeira professora. Candura de mãe e cheia de charme especial. Um quadro preto chamado de lousa, que na verdade era uma pedra lisa que estava sempre cheia de riscos, orações e desenhos. E toma A E I O U com explicações ensaboadas de sons e montagens de palavras diferentes, caprichadas. Depois frases pueris. "O sapo baba no bule". Será isso? Caminhos suaves. Uma turma diferente. Carteiras com duas pessoas. Eu e meu primeiro amigo bem diferente de mim. Recreio e merenda. Sopa de arroz-quirera de terceira. A parte que mais adorávamos, era o banzé do intervalo, pois ali no pátio-chão brincávamos como nas ruas de nossa infância, de nossa criação caseira que esbarrava cercas e milharais em trepadeiras e janelas. Estudar assim ficava gostoso. Ser aluno tinha seus momentos hilários, outros entocados. O triste mesmo era ficarmos um tempão sentados na madeira dividida, copiar palavras da lousa cheia de novidades, escrever coisas interessantes, saber tabuadas de cor, decorar datas magnas e oficiais. O pior era ser privado das ruas de terra vermelha, das árvores com ninhos e arapongas, dos distantes céus azuis, dos borbulhantes córregos de girinos e sem pinguelas, dos gostosos frutos maduros nos pés carregados, dos mandorovás-camaleões ardidos e abelhas zangadas, mais a piazada em atiço atrás de gabirovas amarelas ou verdes ariticuns silvestres cheios de formigas saúvas. Eu adorava estudar. Também pudera. Em casa mesmo, menos do que Nota Nove em qualquer linguagem era a pedagogia do chinelo no bumbum. O que mais doía era a vergonha de não saber, levar esculacho por medo de zero na nota. Então aprendíamos. Aprendi a gostar de escrever, fazer lições, trabalhos de casa e mesmo a ler bastante, que, no começo, na marra até era aplicado como modelo. Aliás, em casa era uma espécie de castigo (que sossegava o espeloteado guri perguntador e curioso) os verbos ler e estudar. E toma a ler Bíblia, Dicionário, o jornal O Estadão, Seleções, Palavras Cruzadas. Que bem isso me fez, meu Deus. Como eu agradeço a meus pais por esses castigos que me abriram mundos e tiraram véus de ignorâncias. Eu era o guri mais pobre da nossa sagrada Estância Boêmia de Itararé, e, no Grupo Escolar Tomé Teixeira, ali na Rua XV de Novembro, centro velho da cidade, saquei que para ser alguém na vida, só tinha uma saída: estudar muito. Deus me deu essa visão precoce. Eu captei tudo, claro. Ser pobre era meu destino ali. Ser burro era opção minha. E eu podia mudar tudo, como, afinal, mudei mesmo, estudando muito, sendo eterno aprendiz, um estimado aluno, amigo de todos os maravilhosos professores. Estávamos nos idos alvoroçados dos Anos 60. Eu já rascunhava minhas frases completas, meus trocadilhos inocentes, meus poemetos infantis, meus primeiros rascunhos nos álbuns de várias irmãs. Ou nos cadernos das namoradas secretas que eu namorava escondido, mas já escrevia bonito e pomposo pra elas. Eu as namorava e as amava por dois; por elas mesmas, pois elas na verdade não sabiam que namoravam comigo. Eu era muito inocente e puro. E as amava com os olhos pendurando cristais, com as oportunas balinhas de limão, com uma gasosa chamada Crush, com um ocasional poema feito às pressas, com alguma rima e sem ritmo, sem muita filosofia, mas que elas aceitavam encantadas como se dálias íntimas de minha criação especial, no jardim da inocência sensível. Na Escola já declamava textos de outros, depois invenções minhas, e toma eu a brilhar no Dia do Índio, Dia da Pátria, Dia da Árvore. E toma a ler depressinha os contos infantis que mestra passava – à bença, Dona Nancy! – depois historinhas divertidas, ditados grandes, lendas e invencionices gostosas que caíam como melancias em minha vida cheia de esperança por dias melhores com sabedorias inteiras. A formatura foi só um pulo. Um primeiro degrau para o céu. Eu estava a caminho, eu sentia isso. Depois tinha outro turno de estudo. Outro necessário e seguinte ciclo. Meu pai que era rico, ficou pobre, doente, e eu tive então que ir vender picolé de groselha preta na rua. Mas eram ruas distantes, descalças, ou com cacau quebrado (paralelepípedos)s, em cantos estranhos, periféricos. E eu batalhando. Tudo era mesmo aprendizado. Às vezes um tombo de bicicleta, às vezes um troco que eu errava – nunca fui bom com números – às vezes um sol forte e minha febre terçã. Minha mãe já não me acompanhava, a não ser com promessas e orações-mantras alongadas por meus sonhos. Tive que cair na luta e apanhar de relho da pobreza. Fiquei forte com isso. Adquiri cascão para outras batalhas.
Um dia fui trabalhar na Marcenaria Estrela. Novos amigos. Tudo de novo. Um novo lugar. Um novo lar diferente e alegre. Cortei minha infância pela metade. Mas eu sobrevivi. E criei meus personagens. E aprendi a fazer poesia para ter companhia. Meus livros eram meus filmes. Minha imaginação ficou sadia. Minha solidão era preenchida com baladas que eu bolava, com cenas de teatro que eu montava, com sonhos de ser escritor, ser feliz, vencer na vida, ser alguém, dar orgulho pro meu pai, cuidar de minhas seis irmãs bentas, de meu irmão caçula, de minha saradinha sobrinha órfã. Vim aprendendo pela vida. Sempre. Gastei mais com livros, jornais e estudos do que com uma casa que custei a comprar, pois eu sempre quis as posses variadas das culturas e dos conhecimentos. Ajudei amigos e parentes. Amei e fui amado. Apanhei da vida e tornei-me um guerreiro pela própria natureza. Eu, que sempre fui apaixonado por todas as minhas professoras, acabei saindo de trabalho jurídico no escritório e fui estudar para ser professor. Deus me selando num destino de ser árvore para dar flores, sementes e frutos? Hoje vivo disso. Sei o referencial que sou. Sei o amor que tenho pela pedagogia, pela educação em si. Tudo é aprendizado. Meus alunos me adoram. São meus alunos-filhos. Alguns me pedem bênção. Outros pedem socorro. Dar aulas é minha maior rebeldia. Tenho satisfação e orgulho. Sou um Tiofessor que sabe o valor do aprendizado e adora estar nessa busca infinita de evoluir, crescer, aprender a Voar. Afinal, bem ou mal, sou aluno ainda, pois, como disse Guimarães Rosa, "mestre é quem de repente aprende". E, confesso, eu quero morrer em sala de aula, como um aluno bem velhinho e caprichoso, de galocha, chapéu de nuvens e aparelho de surdez. Aprendendo, talvez, fauna marinha, física quântica, hebraico, ou como dirigir asa-delta. Confesso que esse aluno que sou nasceu no dia em que saí da barriga de minha mãe. Abri um berreiro sem conhecer palavras, e, a partir daquele dia, vim sendo um ALUNO no sentido mais mágico, mais pleno da palavra. Sei que, quanto mais estudo, mais leio, mais escrevo, mais penso, cismo, conjeturo, mais pesquiso, ainda mais vou perdendo lastro e ficando leve, doce, meigo, sereno... Uma vida inteira é pouco para um aprendizado total. Tenho consciência disso. Até acho que aprendi a ser aluno em algum lugar do passado distante, e no espaço cósmico futuro vou ainda por muitas vidas e dimensões, sendo isso mesmo que adoro ser cem por cento:
UM ALUNO.






Silas Corrêa Leite
Poeta, educador, jornalista. Pós-graduado em Literatura, Comunicação, Relações Raciais e Inteligência Emocional. Autor de Trilhas & Iluminuras, poemas, Editora Grafite (RS), 1995. Autor dos e-books (livros virtuais) Ele está no meio de nós e o pioneiro, de vanguarda e único no gênero chamado O Rinoceronte de Clarice – onze ficções fantásticas com três finais cada, um feliz, um de tragédia e um politicamente incorreto, (mais de 60 mil downloads), ambos no site www.itarare.com.br/silas.htm
Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm

Monday, November 08, 2010





ENTREVISTA COM SILAS CORREA LEITE,


Autor do primeiro livro interativo da rede mundial de computadores, O RINOCERONTE DE CLARICE, recorde de acessos, destaque na mídia como Folha, Estadão, Diário, Revista Época, Correio do Brasil, JBonline, Poetry Magazine (EUA) e também nas Revistas Kalunga, Ao Mestre Com Carinho, Revista da Web, etc. e ainda Rede 21 (Programa Na Berlinda), no Programa Momento Cultural (Rede Band/Márcia Peltier), Metrópolis (TV Cultura), etc. O e-book, agora free no site www.itarare.com.br é pioneiro, de vanguarda e único no gênero, foi tese de mestrado e doutorado (Hipertextualidade – O Livro Depois do Livro/UFAL), junto com Mário Prata e João Ubaldo Ribeiro, e recomendado como leitura obrigatória na matéria Linguagem Virtual, Mestrado de Ciência da Linguagem, Universidade Federal de Santa Catarina. O livro tem contos surrealistas ou de realismo fantástico, todas as ficções com 3 finais, um final feliz, um final de tragédia e um terceiro final politicamente incorreto, com o leitor virtual também podendo escrever o seu próprio final. É considerado o maior e-book de sucesso na rede para um autor pouco conhecido, apesar de ótimo currículo, vários prêmios importantes, e de constar em quase cem antologias literárias de renome, até no exterior, e de colaborar com vários veículos de comunicação e ser tachado pelo site Capitu de o Rei da Web, por escrever em mais de trezentos sites, até internacionais.

01)-Silas, por que você se tornou Poeta?
Resposta: Eu era filho de protestantes, pai descendente de novo cristão judeu-português, e genitora mestiça descendente de negros escravos de Angola com índios, e tinha desde o berço essa visão simplória de que tudo no mundo era perfeito, o equilíbrio divinal da natureza, a terra-mãe dando tudo perfeitamente para o comer, beber, vestir, habitar, viver em paz e confortavelmente, aquela noção pueril, até que um bendito dia faleceu a minha avó Maria dos Prazeres Guimarães. Pois sofri um tremendo baque que refletiu pesado no sensorial, no psico-somático, uma tristice que virou minha cabeça, meu mundo, meu entendimento. Então nem tudo era perfeito, nem Deus! A morte era o câncer da vida, a negação do Criador com a criatura. Pois virei ateu de meia tigela (ou mais ou menos isso – eu tinha lá meus cinco ou seis anos nessa nau frágil chamada havência) – escondendo minha estupefata frustração com Deus. Foi um choque. Era questionamento quirera na base do “se foi para destruir, por que é que fez?”. Tinha um vizinho que colecionava clássicos russos e obras de Érico Veríssimo e outros, daí para uma leitura-fuga por atacado foi um andaime. Tornei-me um “ledor” feroz, obsessivo, inveterado (calava fundo ali o meu lado “sentidor” – só para citar Clarice Lispector minha amada musa eternal), e, quando vi, já escrevinhava alhures (no primário ainda, no Grupo escolar Tomé Teixeira, em Itararé, e nos tais Dia do Índio, Dia da Pátria, Dia da Árvore, Dia da Bandeira, lia meus textos ufanistas, que a professora Nancy Penna corrigia, depois, mais pra frente, a Professora Jocelina Stachoviack de Oliveira estimulava, dava força, apostava na minha abstração que ela classificou como fora de série. Família rica quando eu nasci, e pobre quando eu, o primeiro varão da família entrava a estudar (já meio alfabetizado e outras conhecenças mais), saquei que, até poderia ser pobre, mas burro nunca, como o pior analfabeto que, sabendo ler não lê. Seria dose dupla. Saquei que a Escola Pública era o único degrau para o alto, apaixonei-me pela leitura de tudo, e, principalmente, pelas minhas professoras todas. Começara ali a ler não só palavras mas símbolos, gestos, momentos, olhares, acontecências, estimas, resultantes.) Era o bendito fruto de seis irmãs antes de mim (eu era para ter nascido bruxo, mas nasci poeta?), e, mesmo piá de tudo, lia de fotonovelas melosas a gibis, revistas como Intervalo, Seleções, Almanaques, jornais. Meu daí dava-me de castigo, ler aqueles artigões dizendo da briga do Lacerda, Brizola, Jango. Fui politizado antes de ser inteiramente alfabetizado. Aliás, até hoje acredito num socialismo de resultados. Pois, com a soma disso tudo, num crescendo, lendo, “fugindo” nas aventuras, histórias e pencas de conhecenças (ilhando-me de certa forma – chamo meus poemas de Poesilhas), gostei, peguei prumo, assuntei-me. Meu pai, quando eu era mais quase jovem, tinha programa de rádio, ensaiava corais e bandas, compunha músicas sacras, era um belo contador de causos. Eu mesmo, com apenas16 anos, já escrevia para um suplemento jovem que o jornal O Guarani trazia encartado, fazia imitações e paródias nos shows da Jovem Guarda, além de ter sido aprovado em segundo lugar num concurso de Locutores da Rádio Cube de Itararé. Corria o ano de 1968. Por uma série de polimentos afins, tornei-me logo o “poetinha” local, em terra de boa imprensa, boa pedagogia, bons pintores, belíssimo geo-físico histórico de cavernas e cachoeiras. Não sei se me tornei ou fui feito, a vida tornou-me, encalhei-me numa sofrência ou coisa assim. Até hoje gosto mais de “ler-escrever” do que de respirar, existir. Poesia canga, ninhais? Despojo. Procurar pegadas íntimas na mandala das palavras. Verter-se. Em um país de contrastes sociais, com muito ouro e pouco pão, faz escuro mas eu canto. Poeta nasce feito? Poeta desabandona-se num não-lugar e alumbra-se, criando o inexistente, feito um desespelho de sub-ser. Hoje perdi-me de mim. Crio feito uma catarse, um onirismo que um refluxo de inconsciência mal-e-mal preconiza a partir de algum certo arquivo genético-sensorial recorrente.
02)-Silas, num poema chamado Muçulmanos, em sua home page (site http://www.itarare.com.br – link Poetinha Silas), você diz “E essas orações em peso invocadas para Meca/É o que os tornam Altares – Todos os Muçulmanos...” Todos os caminhos levam a Deus?
Resposta: Acho que todos os caminhos levam a Deus, de uma forma ou de outra, por linhas tortas ou estradas de tijolos amarelos. Mesmo que seja o “deus” de cada um, segundo a imediata visão, estado de necessidade, grau de merecimento ou estágio de Busca. Todos serão perdoados, de uma forma ou de outra, em mais ou menos dobra de espaço-tempo. Todos serão salvos. Há muitas moradas na casa do Pai, o “Que-Fez”, segundo Haroldo de Campos. Com esse nome ou outro, feitio litúrgico, de compota ou estojo terreal, mas sendo infinito e grandioso, seu perdão é idem. Não nos criou santos, sabia-nos finitos e miseráveis. Se não houvesse o perdão do Criador à criatura ente, então tudo seria mesmo uma mera aventura sideral num teatro-havência como aludiu Shakespeere.
03)-Silas, “O amor é silencioso como um ácaro”, como você canta num verso?
Resposta: O amor platônico, íntimo e clandestino, antes de tirar o véu, a bruma (paixão & loucura), despertence-se, é como um ácaro, um esporo, um átomo procurando o tomo par, feito um silêncio quase prece, correndo o risco de, no devir, tornar-se até poeticamente falando, um Porta-lapsos. Mas, paradoxalmente, também pode ser um eco no abismo, um grude de circunstância, uma polenta que desandou. Pior: quando grita no depositário de luz da cena de origem, tem loucuras que a própria lucidez desconhece. Porque o amor é faca de dois lumes. Caibro e caixilho.
04)-Silas, como você encara a Poesia atual?
Resposta: A Poesia atual, brasileirinha ou brasileiríssima, está meio que “emepebelizada”, meio para “liric” (letra de música em feitio de verso prosaico), do que propriamente poesia pura. Mas, também, o que é mesmo Poesia, nesses tenebrosos tempos pós-qualquer coisa? O que é a exata pureza do fazer poético, na gamela radical de tantos enfoques e tecnologias? Adoro Wally Salomão, Arnaldo Antunes, João Scortecci, Ademir Antonio Bacca, Luiz Antonio Solda, Soares Feitosa, Alice Ruiz, Paulo Leminski e Antonio Cícero, entre outros, mas sou macaco de auditório de Fernando Pessoa, o melhor poeta do mundo em todos os tempos, Drumond, Jorge de Lima, Carlos Nejar, Manoel de Barros, Bandeira, Castro Alves, João Cabral de Melo Neto e Hilda Hist, que considerado a melhor poeta mulher do Brasil em 500 anos. Há muitos poetas bons no Brasil, mesmo fora da chamada grande mídia, alguns até descobertos por Antologias que, nem sempre completas, ainda assim fazem-nos esse favor de descobrir um e outro inédito e anônimo, o que já vale o livro, a junção, o espaço aberto e saudável da veiculaçao. É claro que temos os poetas de ocasião, de panelas, de trupe da imprensa, de clubes e esquinas. Eu que mal sou de mim sozinho (e um poeta não precisa de solidão para ser sozinho), não estou em antologia nenhuma, se bem que devo sair na próxima Revista Poesia Sempre, por obra e graça do Ivan Junqueira, e, lendo tudo e todos, aprendo até como ser e como não ser. Afinal, nasci analfabeto, vivo estudando e vou morrer aprendiz. E depois, a fama é reles, não é mesmo?
4.l)-Silas, a Poesia virou coisa de Professor?
Resposta: Pois é, a Poesia é mais rebento de professor, jornalista, profissional liberal, louco, autista, viciado, suicida, bacharel, artista, do que do povão mesmo que mal tem um tostão pro leite e mel, sequer brioches. Eu, em cada sala de aula, torno um aluno especial, num amante da boa MPB, da leitura, da poesia, mostro um Bob Dylan, um José Nêumanne Pinto, sapeco aqui uma Sylvia Plath, depois um Chico Buarque ou Gilberto Gil, volto a reinar com um haikai, uns versos brancos, e assim, tento, solitário como um lírio, tecer o amanhã, limando mais um ser sensível em terra de primatas. Pelo menos primatas para mim que era um rapaz que amava Os Beatles e Tonico & Tinoco, e hoje sobrevive num mundeco de um estúpido consumismo bobo, rococó, onde uma globalização neoliberal também de forma nefasta globaliza a violência em todos os níveis, a ignorância coletiva de quem pensa que pensa ou acha que é o que não é, produzindo burrezas por atacado.
05)-Silas, qual a ligação que você tem com o Guimarães Rosa?
Resposta: O Rosa eu só fui ler (e adorar) de pleno íntimo aceite, já na casa dos 20 anos. Ele, junto com o Machado de Assis, se fossem europeus seriam "Nóbeis". Tenho umas pinceladas do Guimarães Rosa, mas não o sou totalmente, claro. Entro mais num parafuso do realismo fantástico, surrealismo, com poesia nos textos, regionalizando pro sul-caipira. Meus amigos dizem que eu sou mais um “Silas Lispector”. Acho que é um liqüidificador de tudo que bate e volta, numa mistura saudável.
06)-Silas, qual é o lugar para a prosa na sua escritura?
Resposta: Eu sou só um metido a poeta rueiro e descalço, que acabou se embarulhando na prosa e ficção-angústia... Como descobri, por intermédio de editoras pouco confiáveis do ponto de vista cultural mesmo (por incrível que isso possa parecer) que não adiantava escrever Poesia, que não há mercado, espaço, que “poesia não vende”, para sair do limbo resolvi escrever contos, mas não os comuns, quis ousar, sair do sério, dar com os fulcros n’água. Aliás, poesia não deveria de se vender, mas ser dada de lambuja, de troco, como moeda de ocasião feito pertencimento de maria-mole-queimada, caixa de fósforo, bala paulistinha, picolé de groselha preta, pirulito de limão. Entrei pro Grupo/Movimento Infâmia Literária (do Nelson Oliveira – Prêmio Casa de las Américas/Cuba – Romance Subsolo Infinito/Companhia das Letras) e, com experiência básica de crônicas e jornalismo (inclusive Oficina de Jornalismo na ECA/USP e elogios de Ricardo Ramos em curso de Redação na ESPM), passei a ganhar mais prêmios como contista, do que como poeta. Daí pra cá, vim formatando livros, romances, coletâneas de microcontos, trabalhos infanto-juvenis, poemas temáticos, poesia para a juventude carapintada (prática educacional vivenciada) e outros mais, um monte. Coisa assustadora, talvez digna de um Guiness Book, Curta-Metragem, Documentário ou Globo Repórter. Agora mesmo, estou com um romance vivencial na Geração Editorial, de um cara cabeça que é o Luis Fernando Emediato, e um outro com a Editora Gente. Muitos outros foram “recusados” (mal avaliados?) por grandes editoras do eixo RJ-SP. Também, por quase dois anos, estou com um livro de contos (muitos premiados) em poder do Bernardo Adzenberg (Diretor de Conteúdo da Folha Online) para ser prefaciado, e também um de poemas em poder do Poeta José Nêumanne Pinto para ao mesmo fim. Estou aguardando, vivenciando a expectativa de um bom retorno nesse propósito. Esse ano já fui premiado num Concurso de Poesia do Sesc/Rotary de Cornélio Procópio, Paraná, (poema criticando os Outros 500 do “Achamento” do Brasil), e também no Concurso Ignácio Loyola Brandão de Contos, de Araraquara. Já pensei ate em traduzir e tentar editar no exterior. Será que tenho que ser mais um a morrer inédito, deixando meu acervo para alguém do Depto. De Letras da USP, no futuro, escrever uma tese sobre minha luta inglória? Ai de mim!
06)-Silas, a Poesia deve ser engajada?
Resposta: Toda Poesia tem – o homem é um animal político, dizia Sócrates – o seu lado de engajamento tácito ou não. Poesia neutra ou chinfrim como texto alheio à realidade (e tongo, saranga) do Cony, não significa nada, não tem nada a ler. Não cria gume, não ela, não tem visão plural-comunitária. Eu, como Manoel Bandeira – Saravá Celso Furtado! – só acredito em arte que seja libertação. Não separo o Poeta do Ser Cidadão. Melhor uma poesia engajada e temática nesse fito precípuo de ser social, humana, do que uma poesia xerox, trivial ou matemática como pelotão de isolamento. Poesia mostra o avesso do haver-se, descasca a cebola do indizível, traduz o sagrado-profano com questionário íntimo novo, mexe as candeias e sacode o bolor do tédio com vinagre. Gosto da Poesia que arranca o leitor (também receptor afinado de vislumbre) do lugar comum, e toca fogo na canjica desse país de jecas janotas e boçais (têm um pé na cozinha do ego doentio); cheirando a azedos de estadias-fugas em esgotos góticos de Miami. Habemus Poesia? Tô social. Logo, eila pisando na tábua de carne dessa terceirizada insensibilidade que maquia um tal ISO 2001: a sub-sobrevivência instintal
07)-Silas, todo bom poeta é engajado?
Resposta: Todo bom poeta é bom poeta e ponto!. O resto é colcha de retalhos de mosaicos de percursos, sais, estadias e viagens interiores com cadarços de palavras. Para um potencial de Sebastião Salgado, quanta água com açúcar deu flash por debaixo de pontes e arquiteturas frias, superfaturadas? Temos um holocausto nas ruas do mundo – pior que uma guerra mundial, um nazismo – e ainda falam na montada queda do Muro de Berlim, com tantas outras “fronteiras” e muros no capitalismo-câncer financiando o leviano engodo neoliberalismo açodado pelo lucro nojo, lucro fóssil de mais riquezas injustas (e impunes) na ciranda financeira de agiotas internacionais. Velhos, crianças, sem teto, sem terra, sem pátria, sem emprego, sem Amor, excluídos sociais entregues à própria sorte – ninguém quer ver isso? – enquanto o futuro do Brasil ao FMI pertence, com FHC (ex-sociólogo, ex-comunista, ex-ateu) promovendo privatizações-roubos sem auditorias de incompetências herdadas no trato com a coisa pública (um estado público na verdade privado pelo tucanato amoral e decadente) ainda dizendo que o Plano Real deu certo. Pra quem? Para quê? Trocamos nosso suado dinheirinho pau a pau pelo dólar, e hoje quanto vale? Quem vai pagar por isso? Quem é o ladrão, o chefe da quadrilha internacional? Dão milhões para banqueiros ladrões, milhões para universidades privadas incompetentes, e chamamos isso de modernismo? Que golpe é o PAS, um funesto “Programa de Assalto à Saúde”?. Que empulhação é a tal Reforma de Ensino que não reforma nada, fecha unidades escolares, paga menos a um educador do que a um motorista de ônibus, dando verniz novo a quadrilhas velhas? As máfias governam os governos. Todo Ser Humano, Ser Cidadão, até por uma questão de foro íntimo de sobrevivência ética, emocional, de resistência, tem que ser mesmo engajado. O importante, afinal, não é que a emoção sobreviva?
07)-Como é ser um “plantador de sonhos” como você diz?
Resposta: Plantar sonhos é não passar em brancas nuvens nesse miserê cultural. Se eu deixar de escrever agora, a insensibilidade vence. Tenho que morrer lutando, para que demonstre que, pelo menos a minha sensibilidade Venceu. Plantar sonhos é preencher com humanismo a minha quantia diária no cheque em branco de cada dia de vida, sendo verdadeiramente Ser e verdadeiramente Humano, nesse pais que há grande celeiro de babaquaras, e onde os imbecis estão no poder, por isso os inteligentes têm que se unir, no amor e na dor. Plantar sonhos é ser meio Rimbaud pós-moderno, meio Lord Byron, meio Neruda, meio Tolstói, meio Plinio Marcos e Nelson Rodrigues. Plantar sonhos é tentar arar consciências, deixar a semente-arte (a melhor pedagogia é o exemplo), como uma mensagem-página de não aceitação, de crítica ao comodismo, para o futuro. Se houver futuro no futuro, já que a cada século piora a qualidade do ser enquanto espécie.
07.l)-Silas, mas o sonho não acabou?
Resposta: O sonho acabou. Mas o artista sonha um sonho novo a cada dia. Na sua utopia visionária única, pincela, orna, conduz, não é conduzido. O Capitalismo é tão podre e vil como o Comunismo imposto de cima para baixo, pela força. O Marxismo acabou? Nunca se estudou tanto Karl Marx do que hoje em dia nas universidades americanas. O sonho acabou para o cara pálida que se matou, anulando-se, se massificando nessa correnteza de amebas ao estilo quase grife de: “acompanhe a maioria/Ande sozinho.” Todo artista revisa o sonho anterior, cria outros, produz, refaz. E depois, o que é o sonho de cada um por si? Status, posses, poder. (O status de sítio de uma grife com refil.) E o sonho de todos por todos? Esse não vai acabar nunca. A verdade, como a tal terra prometida é, como já cantou Renato Russo, também pode ser amar as pessoas como se não houvesse amanhã...
08)-Silas, qual é o lugar que a música ocupa ocupa em sua vida?
Resposta: Sou filho de músico, consigo compor com uma facilidade incrível, inacreditável. Faço baladas, blues, assim sem mais nem menos. Você sugere um tema e eu canto incontinente. Você vem com a música pronta e eu de presto encorpo a letra. Meus poemas são como mantras-banzos-haikais-salmos-blues. Certa feita peguei um poema do Drumond e fui cantando em cima, com a música casando direitinho. De outra feita, abri um livro do Garcia Lorca e cantei o poema (de uma mulher colhendo azeitonas) que parecia moda da Mercedes Sosa. Tenho umas letras com o Barão Vermelho, fiz até uma espécie de “Hino do Frejat”, uma letra com o grupo de rock Detonautas do Rio de Janeiro, fiz o Hino ao Itarareense, estou fazendo o hino de minha escola atual, já fiz um outro Mantra em parceria com um aluno de Ética e Cidadania de uma escola de Vinhedo (Instituto Sant’Anna). Quem quiser trabalho meu, é só me contatar no e-mail poesilas@terra.com.br -
09)-Você tem algum “mote” de trabalho?
Resposta: Vários: silêncio, tristeza, solidão, justiça, humanismo, morte – Acho que a Morte é a minha musa. A morte é o centro do universo? É morrendo que se nasce para a vida eterna? Eu faço versos como quem morre, disse Manuel Bandeira. Tudo é Caos. Tudo é “danação” de pedra. A consciência é o registro de vida nesse plano? No começo era só o abismal, até que um Poeta (o primeiro?) deve ter nominado as coisas, e deu nome ao começo, meio e fim. Mas, e quando a Morte matar a morte?
10)-Silas, qual o papel do escritor na sociedade?.
Resposta: O papel do escritor na sociedade é não ter papel nenhum. Milton Santos (esse daria um bom presidente) não quer ser político. Quer ser ele mesmo digno, transparente. Betinho só queria dar seu testemunho de vida, sem ter papel de rosto algum. Desconfio muito de quem quer papel disso e daquilo, só para enfeitar o pavão da mesmice capenga. O papel do escritor é, apesar de tudo, continuar escrevendo, registrando, denunciando, colocando o dedo em feridas históricas de um país de hipócritas e antros de exclusões. Os melhores Escritores do mundo, eram, e apenas eram circunstancialmente, diplomatas, professores, peregrinos, jornalistas, compositores, profissionais liberais, funcionários públicos, vagabundos, amantes, boêmios, mal resolvidos, mas, principalmente eram independentes para errarem e acertarem (com isenção) prosas e versos. No link Poetinha Silas do site http://www.itarare.com.br – consta uma breve bibliografia minha até 1998, mas eu não falo muito de cursos, vida profissional. As crianças e os jovens são minha plantação de sonhos, canteiros, a minha mensagem de amor para o futuro. E fazer poesia a qualquer momento, por qualquer toleima ou mixórdia de achar-me nulo ou atado, é a minha forma de pedir paz, pedir justiça. Afinal, a Esperança é a inteligência da vida. Como não há sensações no esquecimento, escrevo, lavro, vou amealhando matizes e iluminuras de meu próprio percurso-vida. E que Deus tenha piedade de nossa miserabilidade, onde a própria poesia tende a ser um mero Eco no Abismo. “Ser Poeta é a minha maneira/De chorar escondido/Nessa existência estrangeira/Que me tenho havido”
11)-Silas, para encerrar, o que você gostaria de dizer?.
Resposta: A literatura atual, como todo o mundo, está numa época de “travessia”, de entressafra. Eu mesmo, de uma hora para outra, virei escritor virtual, porque tive uma ótima idéia (e um ótimo livro, segundo críticos, intelectuais, jornalistas, escritores) foi recusado como “Literatura em 3 Dimensões” pela Companhia das Letras, e acabou sendo descoberto e virando e-book de sucesso, estando no link Interativos do site http://www.hotbook.com.br, onde uma coletânea chamada O Rinoceronte de Clarice tem 11 contos com 3 finais cada, um feliz, um de tragédia e um de surrealismo ou politicamente incorreto, permitindo ao leitor internauta copiar grátis pro seu pc, votar no melhor final do conto, bem como – e esse é o lado interativo que o projeto pioneiro propõe – pode escrever um final todo seu, e encaminhar pro provedor. Ao final do ano deve ser escolhido o melhor final do leitor para cada ficção, e anexado ao livro que, certamente, cedo ou tarde será impresso, desde que um gerente editorial tenha um instante-fragmento de insight e enxergue longe, enxergue melhor minha obra como um todo. Foi escrito em 1968, e ainda hoje é pioneiro e único do gênero na rede mundial da Internet, a partir de pesquisa feita em Nova York. Ganhei vários prêmios, até na USP e na Universidade do Oeste do Paraná (Concurso Paulo Leminski de Contos), fui elogiado, entre outros por Jamil Snege, Elio Gaspari, Ricardo Ramos e Revista Aldéa da Espanha, estou em Antologia Multilíngue de Poetas Contemporâneos da Itália (entre outros países), e permaneço inédito em livro próprio no Brasil. Acredite, se quiser. Imagine se eu fosse amigo de algum dono de editora com alguma sensibilidade, visão cultural e noção de literatura, e não um mero apreciador do tilintar de uma caixa registradora?. De qualquer maneira, agradeço a gentileza desse precioso espaço precioso, a força, a visão, a leitura dos meus textos estranhos e loucos, esperando que um dia eu possa, feliz e desmamado do ineditismo, anunciar um coquetel para lançamento de um livro de contos, um romance, uma novela. Do CAOX nasce a luz? Tudo é possível. Torço por isso. Milagres acontecem... Obrigado e até a próxima.

Silas Corrêa Leite – poesilas@terra.com.br

(Rodrigo de Souza Leão) - Transcrito

Friday, November 05, 2010


Coral REMIDOS DO SENHOR

Igreja Assembléia de Deus, Itararé, Anos 50

À frente, MAESTRO ANTENOR CORERA LEITE

Hoje nome de rua em Itararé


Thursday, November 04, 2010